JACY PACHECO
Jacy de Freitas Pacheco (Duas Barras, 27 de novembro de 1910 — Niterói, 13 de julho de 1989) foi um bancário, escritor e poeta brasileiro. Era primo de Noel Rosa.
Jacy Pacheco passou sua juventude em Campos dos Goitacazes. Estudou pistom no Colégio Salesiano de Campos e trabalhou na Casa Pratt, loja onde vendiam-se máquinas de escrever e pianos. Foi ali que Pacheco aprendeu informalmente a "tocar teclados", e ganhava alguns trocados acompanhando ao piano a exibição de filmes (mudos) no cinema local.
Foi o autor de músicas e letras jamais gravadas, e só começou a ter reconhecimento artístico com a publicação dos poemas "Planície" (1939) e "Bancário, Misérias de Uma Profissão" (1942). Em 1955, publicou suas memórias do primo famoso (seus avós são irmãos), às quais se somaram as de Hélio Rosa, irmão de Noel, que na época morava com Jacy em Niterói. Trata-se da primeira biografia em livro de Noel Rosa. A boa recepção pelo público incentivou-o a lançar um segundo volume, O Cantor da Vila, em 1958. Publicou ainda um terceiro livro (de bolso) sobre o cantor, A Vida e os Amores de Noel Rosa. João Máximo e Carlos Didier, ao escreverem Noel Rosa: Uma Biografia, considerada a mais completa biografia sobre Noel, usaram os livros e o testemunho de Pacheco como base. Em seu Noel Rosa e sua Época acha-se o único registro sobre o encontro do compositor com Sinhô, em 1926.
Obras:
Noel Rosa e sua Época, Rio, G.A. Pena Editor, 1955;
O Cantor da Vila, Rio, Minerva, 1958; A Vida e os Amores de Noel Rosa (s/d); Planície, poemas, Rio, Pongetti, 1939; Bancário - Misérias de Uma Profissão, romance, Rio, Editora Getúlio Costa;
Quando a Primavera Chegar, poemas, 1950; Quatro Caminhos, com Cid Andrade, Celio Grunewald e Lourival Passos, poemas, 1951;
Éramos Dois, poemas, Rio, Minerva; Paisagem Fluminense, Niterói, Imprensa Oficial, 1969; Itinerário, poemas, Niterói, INDC, 1973;
Haicais, poemas, Rio, Cultura Contemporânea, 1981.
Fonte da biografia: Wikipedia.
LITERATURA RIOGRANDENSE VOL. 6 (Poesia & Prosa). Org. de Nelson Fachinelli. Capa de Mozart Leitão. Porto Alegre, RS: Editora Proletra, 1985. 126 p. Col. Literatura Riograndense Atual, v. 6). Ex. bibl. Antonio Miranda – doação do livreiro Brito (DF)
PORTO ALEGRE
Para Niva Maria, minha nora e ao seu filho
Sérgio, em sua andanças de engenheiro,
me revelou o Rio Grande.
Quando o sol esmaece no Guaíba, enorme,
a água calma reflete a luz de mil luzeiros,
E nas margens distante, umbrosa, multiforme,
em postura de prece inclinam-se os salgueiros.
O povo, acolhedor, é no trato uniforme.
Entre prendas gentis e carnes nos braseiros,
a cidade, gaudéria, boêmia, nunca dorme,
nem mesmo se a fustigam vendavais pampeiros.
“Vera Cruz”, “Mara”, “Ceres” e outros barcos mais,
acolhem namorados pela tarde fresca,
que o porto é alegre e bom — é o porto dos casais...
Sob os arranha-céus, as vias tumultuadas!
Toda a guasca finura, a tradição gauchesca,
pulsam no coração da Rua dos Andradas...
GAUDERIANDO
O Sul esquadrinhei, emocionando, atento:
Pelotas, Jaguarão, Chuí... Quantos caminhos!
Bagé, Rosário, Dom Pedrito, Livramento´,
Passo Fundo, Erechim.. Em Garibaldi, vinhos!
Junto ao rio Uruguai, São Borja, Uruguaiana...
vi campos e rechás: Santo Ângelo, Itaquí,
Alegrete — o rincão do bom Mário Quintana,
e Caxias do Sul, Estrela, Taquarí...
Casei um filho em Novo Hamburgo... Nesse empuxo,
aos trancos, me tornei feliz vovô gaúcho.
Se a tropilha do inverno abate-me a lo largo,
os amigos que fiz não foram sonhos vãos.
Lembrando Canguçu, Gramado, Dois Irmãos,
na cuia da saudade empalmo um mate amargo...
(1984)
ANOITECER NO GALPÃO
Os peões, ao lusco fusco,
voltam da campereada.
Cada qual vem mais patusco,
alardeando a chegada.
Contente, se agita o cusco,
no meio da petizada.
Vento frio, vento brusco,
chama ao galpão a moçada.
Som de gaita, boa canha,
no espeto muita picanha,
e causos, e chimarrão...
E a gente esquece a cidade,
na canção do Tito Madi
que acalenta o coração.
(1984)
TROVAS
Coxilhas do Sul, redondas,
com seus trigais e pastagens,
tangem tropilhas em ondas
na sucessão das miragens..s.
Galpão gaúcho... o braseiro...
o amargo da mão em mão...
Anima o baile o gaiteiro
e a prenda prende o peão...
Quando o Rio grande encilha
o flete de sua História
a epopeia farroupilha
lembra dez anos de glória!
Ronaldo, Sérgio, Heloísa,
meus filhos, minha alegria!
Sendo a filha poetisa,
herdará minha poesia...
QUANDO EU ME FOR...
Quando eu morrer, me vou filosofando:
rolei bastante, já vi muita gente,
e o velho corpo sofre, precisando
de repousar definitivamente.
Terei plasmado muitos sonhos quando
a morte se fizer em mim presente.
Amigos, já no Além, vou rever, tranquilamente.
Finda esta encarnação, cumprida a meta,
sinto que fui um persistente poeta
ganhando prêmios e ficando prosa...
Quando eu me for, algum jornal nativo
dirá, sucintamente laudativo
que biografei o primo Noel Rosa...
(Do livro: Poesia de Bolso, 1985)
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Página publicada em setembro de 2021
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